William Bruno Diogo do Amaral, artisticamente conhecido como Bruno M, reagiu publicamente à condecoração recebida na 6.ª Cerimónia de Condecorações das celebrações dos 50 anos da Independência Nacional, realizada na última terça-feira, 30, pelo Presidente da República de Angola. O artista, considerado um dos maiores compositores e intérpretes de Kuduro de todos os tempos, disse que inicialmente não queria participar do acto, mas acabou por aceitar no último momento, assegurando que a homenagem não significa recuo na sua fé cristã.
Num vídeo divulgado nas suas redes sociais, Bruno M começou por esclarecer que a gravação não teve qualquer roteiro. O artista afirmou que recebeu com surpresa as manifestações populares que apelavam ao seu reconhecimento, mas garantiu que nunca teve intenção de marcar presença no evento.
“Eu nunca tive intenção de estar nesta cerimónia, resisti, não queria mesmo estar. Incrivelmente, no último minuto, Deus levou-me a participar. Nunca foi minha intenção… Não me arrependo”, disse o cantor.
Ainda segundo o ex-kudurista, a glória que a cerimónia representa é algo “perigoso”. “Corremos o risco de nos enganar pelas coisas passageiras desta terra, pensar que isso é algo grandioso, querer sentir-se grandioso, coisa que pela graça de Deus eu não pretendo e não quero para mim”, declarou.
Bruno M fez questão de frisar que a sua participação não deve ser interpretada como um afastamento da fé: “Deixo algo bem claro: eu não estou a recuar das coisas de Deus. Não quer dizer que o irmão Bruno recuou da fé. Hoje eu sou servo de Deus. Deus me chamou para Lhe servir.”
Irmão Bruno, tal como chamado desde a sua saída na música, sublinhou ainda que uma das razões para a sua resistência inicial foi não querer misturar a sua nova vida em Cristo com o passado no mundo da música. Apesar disso, reconheceu a importância cultural do Kuduro e do seu contributo para a música nacional: “Eu não posso negar o trabalho que fiz enquanto kudurista. Foi um evento grandioso, um reconhecimento de figuras que de algum modo edificaram a Nação.”
Bruno M, natural de Malanje, tornou-se uma referência no Kuduro nas décadas de 2000 e 2010, sendo autor de sucessos como “Tchubila”, “1 para 2”, “Dança dos Combas” e “Por Cada Lágrima, Dois Sorrisos”. Em maio de 2023, anunciou a sua retirada definitiva dos palcos para se dedicar inteiramente à fé cristã. Mesmo afastado da música, é ainda considerado por muitos como o melhor compositor do estilo e uma das vozes mais marcantes da cultura urbana angolana.
A condecoração com a Medalha dos 50 anos de Independência Nacional vem confirmar o seu legado artístico, ao mesmo tempo que reafirma a sua posição como lenda incontornável da história do Kuduro em Angola.
